domingo, 28 de novembro de 2010
"Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo". G.R
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Travessias.
Em que é preciso esquecer os caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares.
Fernando Pessoa, revisitado.
(esperando Artaud)
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Brasinha - Parte II.

"...nunca mais você vai ler Guimarães Rosa, como você lia antes de vir à Cordisburgo"
A Famigerada: No final do Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa diz "o que existe é o homem humano, travessia", e quando eu comecei a fazer a Caminhada eu entendi tão profundamente isso... E acho que isso na obra dele é muito latente, essa questão da travessia humana...
Brasinha: É aquilo que eu falei para você, você lembra? No princípio lá da Caminhada, no café, é o que eu tava falando "o real não está na saída nem chegada, ele se dispõe para gente é no meio da travessia", sabe? Então eu acho que o caminho, o caminho é importante, mas ele se torna mais bonito, mais maravilhoso, quando você vai ouvindo os textos, né? Aquilo entra dentro de você...
E eu acho que é aquilo que eu estava falando, além da travessia geográfica é uma travessia de vida, é a vida da gente, é essa travessia de vida, é uma coisa impressionante... E você fica pensando que só você que está atravessando a vida, mas não é, né? Todo mundo, num mesmo caminho...
Quando ele fala que, no rio quando você entra dentro dele para atravessar, você nunca sai no mesmo rio... A travessia ela não é direta, então essa caminhada foi um achado dentro dessa literatura. E todas as pessoas que vêm, parece que quando a gente fala que não tem como especificar, dizer o quê que é isso, "ah é uma caminhada...", parece que as pessoas falam "eu vou lá para eu ver como que é isso..." Porque a travessia interna, espiritual que é o cotidiano da gente, né?
Então eu acho que foi um jeito muito bom de ver a literatura...
Por exemplo, você é uma leitora de Guimarães, nunca mais você vai ler Guimarães Rosa como você lia antes de vir à Cordisburgo, e de ver, né? Vai ter um outro ritmo, porque tem uma musicalidade, a fala da gente...
A Famigerada: É um outro olhar, que realmente aguça a percepção, e a primeira coisa que a gente viu foi os Miguilins, e foi incrível ouvir o sotaque, ouvir a sonoridade, ouvir o trabalho com a palavra! E o Guimarães Rosa tem uma língua (risos) ...
Brasinha: Ele fala assim, tem uma etrevista dele que ele fala o seguinte, ele fala que ele queria a palavra antes dela passar por todo esse crivo, lá no nascedouro, a palavra pura... Quando tem aquele livro Ave, palavra, é uma saudação à palavra. A palavra é realmente o que move tudo isso... A palavra é muito importante, sabe?
E o Riobaldo fala lá no Grande Sertão, tem uma fala dele que é maravilhosa, quando ele fala "a vida da gente deveria ser como um teatro, cada um desempenhando seu papel no palco"... Isso é, o desempenho da gente na vida é um teatro, a vida da gente é um teatro, sabe? Então eu acho que é, igual eu te falei, me ajudou muito a literatura, leio outros escritores, acho, sabe?
Mas que difícil você ver uma cidade que cultua tanto um escritor principalmente, como Cordisburgo... Você vai, tá escrito frases pela cidade inteira... Você vê os Miguilins, é o museu falado, virou uma literatura falada, um livro falado, né? E isso...
Eu acho que isso que você faz, você vai fazer um teatro, vai fazer um filme, seja o que for, você vem beber na fonte, o seu entendimento depois disso é outro... Não que a gente saiba mais do que os outros...
Mas eu acho o seguinte, uma coisa que eu sou encantando também é o respeito de vocês, que vem de fora, para isso tudo, sabe? É um respeito sagrado, eu percebo isso... Vocês chegam, é... É uma coisa quase que sagrada mesmo, o respeito que vocês têm, sabe? E aí vocês vão entendendo que como aquele texto que a Daiane narrou na Caminhada, de Minas Gerais, aquilo do mineiro, né? E é isso, ele nunca mostra de cara quem ele é, né?
É como você ler o Grande Sertão, você vai ali pensando "que estória é essa?" e de repente aquilo deserenrola e vira um... né? Então eu acho que é isso, a literatura faz muito bem para todo mundo... e principalmente para nós de Cordisburgo...
A Famigerada: E o que eu senti da cidade é que não é uma cidade "alegórica" do Guimarães Rosa, é a cidade do Guimarães Rosa, e isso é mesmo visível nas paredes, quando você anda e vê um trecho de um obra dele, e eu queria que você falasse um pouco disso, como você vê a relação das pessoas com a obra do Guimarães em Cordisburgo?
Brasinha: Eu falo o seguinte, eu falo assim, quando as pessoas me perguntam às vezes as pessoas me perguntam "Oh Brasinha, em Cordisburgo o pessoal lê Guimarães Rosa?", eu falo "eles não precisam, eles são a obra", eles brotam de dentro do livro, sabe? Para eles é comum isso, e esse comum assusta a gente, principalmente você que vem de fora... É espantoso, tanto que as pessoas falam assim, Guimarães é, ele escreveu algumas coisas aí, que o pessoal fica encantado, sabe? A cidade tem, você encontra com as pessoas, e uma das primeiras coisas que eles falam é "você já viu os Miguilins?" né? Isso é importante, a naturalidade, que é o que ele expôs na obra dele... Eu enchergo assim, sabe? As pessoas como a obra do Guimarães, sabe? Mesmo aqueles que falam "Ah, eu não leio, isso é difícil, é complicado, eu não gosto disso..." Mas eles estão falando a obra do Guimarães, sabe? Por isso que eu falo procê, que ele tinha certeza... Porque têm uma das primeias entrevistas que ele dá, ele fala para pessoa, a pessoa diz "Ah, você escreveu Grande Sertão, Sagarana, Corpo de Baile, umas coisas meio complicadas..." E ele fala para pessoa "Vai para Cordisburgo, lá você vai entender minha obra..."
José Osvaldo dos Santos, o Brasinha - Parte I.
E ainda há tanto para se falar: as apresentações de teatro de rua, a palestra do professor Luiz Claudio Vieira da UFMG, e seu orientando Enio, sobre Traduções Intersemióticas que tanto nos interessam, a Caminhada Eco-Literária, a Gruta de Maquiné, os caminhos do sertão...
Mas tudo visto, ouvido e vivenciado não teriam se potencializado tanto se nos minutos finais de nossa estadia, um homem com tanto brilho no olhar não tivesse parado ouvir e falar com os famigerados.
Soubemos depois, que José Osvaldo dos Santos, (famigerado no melhor sentido da palavra! rs) o Brasinha, é além de um comerciante muito simpático, um dos criadores e organizadores do Grupo Caminhos do Sertão, Diretor cultural da Associação dos Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa e Diretor cultural do Circuito Turístico Guimarães Rosa.
Brasinha, nos concedeu muito gentilmente essa entrevista, com a cordura e a candura exata de um homem da "cidade do coração". E poder encontrá-lo, foi, com palavras não sei dizer...
Deixe então que ele diga:
Então ficou brasa, brasa, e ficou Brasinha o apelido. E eu nasci em Sabará uma cidade perto de Belo Horizonte, mas vim para cá com seis meses de idade, então eu me considero um Cordisburguense nato. Eu tenho 58 anos e vivo aqui em Cordisburgo assim, respirando a literatura do Guimarães Rosa, porque eu sou um apaixonado pela obra, porque o quê que eu fiz, eu comecei a ler Guimarães Rosa, foi interessado pelo real que têm dentro dessa ficção.
Porque eu sou comerciante, então eu tenho uma lojinha aqui na Avenida, na mesma Avenida da casa onde Guimarães Rosa nasceu e de frente à minha loja tem uma barraquinha, um barzinho que era do Juca Bananeira, e as pessoas - isso eu tava com 20 e poucos anos - as pessoas falavam: “Olha Brasinha, o Juca Bananeira, você sabe que ele é personagem dum livro do Guimarães Rosa, Guimarães Rosa nasceu aqui e escreveu Sagarana...” E eu toda vida achei Sagarana um nome maravilhoso, né? E aí eu fui conversar com o Juca para saber, e ele já me recebeu falando uma coisa bem Roseana, que ele falou assim: “Ó Brasinha, eu to lá dentro do Sagarana”.
E aí eu comecei essa busca que eu estou te falando do real, porque a gente vai lendo a literatura e vai encontrando tudo, de repente tudo vira ficção...
E aí quando foi passado uns tempos que criou os Miguilins, aí os Miguilins entram no grupo com 11, 12 anos e ficam até 18, 18 eles saem para estudar. E a turma que saiu do grupo falava “ah, a gente queria continuar contado história...” Aí eu falei “Ah, então vamos criar um outro grupo..” Que é o Caminhos do Sertão, para abrigar esses meninos que saíam do Miguilins, e esses meninos vieram pro grupo e começaram a narrar estórias...
E aí passado um certo tempo, a gente começou a perceber essa coisa do real, e para gente perceber essa coisa do real dentro da ficção a gente começou a procurar os pontos da cidade falados na obra do Guimarães Rosa: ruas, casas, estação, pontes e tal...
E a gente estava fazendo isso, os meninos narrando, por exemplo: “Ah, aqui tinha uma casa, que tinha uma história, assim, assim, assim, que está lá na obra...” E os meninos ficavam em frente àquela casa narrando.
Daí a gente um dia, arrumou um grupinho assim, de umas dez pessoas, e essas dez pessoas foram ver os meninos narrar nesses pontos, e aí a gente começou a caminhar, daí uma amiga minha falou assim “Oh Brasinha, uma caminhada... com os textos do Guimarães Rosa ficaria interessante...” Aí surgiu a caminhada que a gente passou a chamar de Caminhada Eco - Literária, para mostrar para as pessoas os lugares geográficos reais onde o Guimarães Rosa coloca ficção...
E a gente chamou um grupo, que é o Zé Maria, o Fábio, Daiana, Mércia, o Leci, a Luana, o Elvis que é o violeiro... E começamos a fazer isso, e da cidade nós fomos pro entorno da cidade, fomos pro campo, fomos pras fazendas que o Guimarães Rosa fala, e aí a gente começou a convidar as pessoas nas Semanas Roseanas.
E a primeira caminhada, eu falo para as pessoas foi a caminhada melhor que eu fiz até hoje, porque foi eu e dez Miguilins, eles todos narrando só para mim, o público era só eu.. (risos) Então para mim foi assim, eu falei “puxa vida isso é mágico”, porque ouvir Guimarães Rosa é melhor que ler, tem uma musicalidade, uma sonoridade, uma coisa...
E aí, no ano seguinte, a gente falou, “Ah, vamos fazer a caminhada...” E fomos para uma vereda onde tem uns buritis, e aí tinha 50, umas 60 pessoas, no outro ano a gente foi para uma outra fazenda, pelos caminhos que o Guimarães Rosa fala no “Recado do Morro”, e aí já tinha 100 pessoas...
É difícil...
Por que você fala: “caminhada, mas como será isso?” Mas quando as pessoas chegam aqui em Cordisburgo, e participam da Caminhada eles entendem o quê que é... Sabe? É uma literatura falada, nos lugares em que o Guimarães, que o escritor se inspirou...
Então as caminhadas surgiram com isso, com essa paixão minha pela literatura do Guimarães e dos contadores de histórias que são - eu chamo os meninos de “os arautos de Guimarães”, os anjos de Guimarães!
Então acho que, que é isso que ele queria... Por que em entrevistas dele ele fala que, ele pede as pessoas para ler a literatura dele em voz alta, então todo esse envolvimento meu com a literatura do Guimarães Rosa, essa paixão pela literatura ela é uma caminhada que eu faço, e continuo fazendo, que serve até espiritualmente para mim, sabe?
É muito bom você ler, e saber que esse conterrâneo nosso fez uma leitura da alma do sertanejo e botou na literatura pro mundo inteiro, que ele mesmo fala né? Que “o Sertão é do tamanho do mundo”, né? Quando ele fala “o sertão é o mundo” eu já começo a pensar que agora parece que o mundo tá virando sertão, sabe? De tanto que é divulgado as pessoas do mundo inteiro vêm para Cordisburgo para entender essa literatura.
Como nosso querido Brasinha já participou de Seminário Nacionais e Internacionais sobre Guimarães Rosa e sua obra, vamos listar alguns links por ordem de publicação, com artigos sobre sua atuação no estudo e divulgação da vida e obra do escritor Codisburguense:
TUCA: Teatro da PUC. Guimarães Rosa - 100 anos. (Jun. 2007)
Folha Online: Cordisburgo comemora centenário de Guimarães Rosa (Ago. 2008)
Cordisburgo, a terra do Rosa (Nov. 2008)
Portal Uai, Minas: Guimarães Rosa - O homem que viu a alma do Sertão (Dez. 2008)
Estudos Avançados: A Magia do Sertão desperta o Brasil (Dez. 2006)
Revista USP: Travessias, Cordisburgo e suas veredas (Fev. 2009)
AproPUC: O real dentro do imaginário de Rosa (Mar. 2009)
Em outras palavras...
quinta-feira, 29 de julho de 2010
A Terceira Margem do Rio: Ponte Sobre águas Vazias.
Em nosso próximo encontro contaremos com a presença de Luis Marra - médico, escritor e autor do livro “Ponte Sobre Águas Vazias: ensaio sobre o Budismo”- abordando o conto “A Terceira Margem do Rio”, de Primeiras Estórias, sob a luz do Budismo e a filosofia milenar do Oriente. Considerado por muitos como um conto epígrafe da obra Roseana, “A Terceira Margem do Rio” será sondado em seus aspectos míticos, universais e simbólicos.
Luis Marra é médico, escritor e autor dos Livros “O Coletivo Aleatório”, “Diário Perdido do Jardim Maia”, “Bala à Flor da Pele” Ed. Hedra e “Ponte Sobre Águas Vazias: ensaio sobre o Budismo” com lançamento previsto para 2011.
Continuamos nossa jornada de encontros agora com uma novidade: abrimos espaço a todos os interessados em participar deste momento de troca e pesquisa artística. Basta enviar um e-mail para o famigeradacia@hotmail.com confirmando a presença.
Onde: CECISP- Associação Centro Cineclubista de São Paulo-Ponto de Cultura Audiovisualistas. Rua Augusta ,1239-Cj 13/14, próx. ao Espaço Unibanco de Cinema e à estação Consolação do Metrô.
Quando: Dia 31 de Julho, próximo Sábado às 15h.
Até lá!
Miguilins.
Como prometido, vamos tentar publicar nossa série de artigos, entrevistas e reflexões sobre a XXII Semana Roseana de Cordisburgo, da qual tivemos o imenso prazer de participar.
Os pequenos contadores nos emocionaram com sua apropriação sobre a obra, falando a língua de Rosa com uma simplicidade extraordinária. Como depois nos disse o querido Brasinha, também conhecido como José Osvaldo dos Santos (Diretor Cultural da Associação dos Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa, Diretor Cultural do Circuito Turístico Guimarães Rosa, Cordisburgo - MG), os Miguilins, que também são responsáveis por guiar visitantes no Museu Casa Guimarães Rosa, parecem mesmo ser os arautos do escritor Cordisburguense.
Para conhecer melhor essa estória, entrevistamos a pequena e muito articulada, Kewellry Nala Silva Cruz, de 14 anos, que nos falou sobre a trajetória do grupo e sua relação com a obra do escritor.
A Famigerada: Como começou o Grupo Miguilin?
Miguilin Kewellry: Esse grupo, o Miguilin, foi fundado por uma prima de João Guimarães Rosa, Doutora Calina Silveira Guimarães em 1995, ela fundou esse grupo com o intuito dos jovens de Cordisburgo passarem por uma adolescência saudável. Ela morava em Juiz de Fora, e quando vinha à Cordisburgo via que o Museu estava parado, que os visitantes passavam, olhavam, mas não sabiam nada nem sobre a obra nem sobre a vida de Guimarães Rosa, então ela formou um grupo de guias que acompanhavam os visitantes informando vida e obra de Guimarães Rosa. Aí passou um tempo e ela viu a sobrinha dela, a Dora Guimarães, narrando obras de Guimarães Rosa e não só de Guimarães Rosa, mas de outros autores, e pensou em fazer o mesmo com os guias do Museu. Então ela falou com a sobrinha dela, e a Dora achou um absurdo ensinar Guimarães Rosa para meninos de 12 anos, porque Guimarães Rosa é uma literatura muito complexa, e a Calina falou que podia deixar que ela ia dar conta dos meninos, que ela só queria que a Dora desse as oficinas. E nisso foi, e o grupo já existe há mais de 14 anos e ele não fica somente no Museu Casa Guimarães Rosa, ele se expande por todo o Brasil. Com as narrações de estórias nós já fomos para várias cidades do Brasil inteiro.
A Famigerada: E por quê você se interessou por esse Projeto? Como é a sua história dentro do grupo?
Miguilin Kewellry: Eu estudava de primeira a quarta série no Colégio Estadual Mestre Candinho, e a Lúcia, que é uma das organizadoras da Oficina inicial, antes da Dora e da Elisa, ela escolheu alguns meninos que já estavam saindo da escola e que gostavam de ler e interagir com o público, então ela me escolheu junto com vários colegas meus, e nos encaixou na Oficina. Só que eu ainda não me interessava muito... Então minha mãe fez a inscrição, chegou lá em casa falou comigo, daí eu disse: "Tá bom, né? Então eu vou". E aos poucos eu fui me interessando mais. E por ser uma história muito complexa, você lendo Guimarães Rosa, os outros autores ficam fáceis de se ler... Lendo Guimarães Rosa você entende todos os autores com muita facilidade. Eu entrei no Grupo com 11 anos mais ou menos. Nisso fiquei dois anos, mais ou menos, na Oficina de Iniciação, e me formei em Outubro do ano passado, ano retrasado mais ou menos, não me lembro... E nisso já estou no Museu há algum tempo, e é isso, minha estória com o Grupo, é uma história, ah... Eu não gostava muito, depois eu fui me apegando...
Mas na hora de sair eu quero ver como eu vou ficar... (risos)
A Famigerada: E como é a relação entre os Miguilins?
Miguilin Kewellry: Por sermos poucos, a gente tem muito contato, ficamos muito amigos. Um monte de gente que faz parte do grupo é da mesma sala de aula. Daí ficamos mais apegados ainda, somos amigos há muito tempo.
A Famigerada: E me diz uma coisa, existe um tempo limite para ficar dentro do grupo?
Miguilin Kewellry: Sim, é porque que o ensino aqui em Cordisburgo só vai até o terceiro ano do Ensino Médio. Para você terminar, você tem que ir para fora de Cordisburgo, e com isso não tem como vir para o Museu e dar plantões no Museu, fica meio difícil. Daí com mais ou menos 18 anos, quando você vai estudar fora, você tem que sair do Grupo.
A Famigerada: E você já imaginou que curso vai fazer quando sair daqui?
Miguilin Kewellry: Eu estou em dúvidas entre dois, duas profissões bem distintas uma da outra... Eu queria fazer Biomedicina ou Teatro.
A Famigerada: Faça Teatro! (risos) Agora Kewellry, eu queria que você contasse para gente como é a sua relação com as obras do Guimarães Rosa e como você vê a relação da cidade com o escritor conterrâneo?
Miguilin Kewellry: Bom, como você pôde perceber, muitas construções e lojas têm nomes de obras de Guimarães Rosa, há várias frases espalhadas pelo comércio e construções. O povo parece que tem muito orgulho, por ser uma cidade parada, é ele (Guimarães Rosa) que movimenta todo o artesanato, o turismo... Todos os turistas que vêm para conhecer Guimarães Rosa, movimentam a economia de Cordisburgo, pode perceber nos trabalhos artesanais, nos bordados, que tudo tem um ponto puxado para Guimarães Rosa, seja uma frase, seja um desenho que ilustre a obra, mas tudo tem um ponto de referência á Guimarães Rosa. E eu gosto de ler Guimarães Rosa, porque além de ficar mais fácil de compreender outros autores, você aprende muito, porque nós vivemos numa época de muita tecnologia, apesar de ser uma cidade pequena... E com isso você vê todo o passado como era, você vê como é que era o Sertão, por causa do desmatamento a gente não tem muita visão, e na obra, mesmo através da imaginação, imaginando tudo como era, lendo e imaginando você consegue ver tudo, como era a vida, as paisagens, as construções, como era tudo há muito tempo, quer dizer não muito, mas há alguns anos atrás...
A Famigerada: Kewellry, o que a gente viu de vocês lá no teatro narrando, foi uma compreensão profunda sobre a obra, que gente que estuda anos e anos e anos não tem, então eu queria saber como foi e como é essa educação literária sobre Guimarães Rosa aqui em Cordisburgo?
Miguilin Kewellry: Bom, apesar daqui ser a cidade de Guimarães Rosa não se estuda muito sobre a obra, mais nos grupos de primeira a quarta série, que existe uma interação maior sobre a obra, porque de quinta série ao terceiro ano do Ensino Médio não tem muita interação com a obra... Mas apesar disso, nas bibliotecas tanto das escolas quanto nas bibliotecas públicas aqui de Cordisburgo, tem um vasto acervo da obra de Guimarães Rosa, então isso facilita muito o contato com a obra mesmo em si...
A Famigerada: Kewellry para gente terminar nosso bate-papo eu queria que você narrasse um trechinho da obra que você goste muito para gente!
Miguilin Kewellry: "Amizade nossa ele não queria acontecida simples, no comum, sem encalço, amizade dele ele me dava, e a amizade dada é amor."
terça-feira, 27 de julho de 2010
Grupo Redimunho.
Transcrevo na íntegra:
A Oficina pretende conduzir seus participantes em um processo de criação semelhante ao que se dá no Grupo, partindo de todas essas referências e buscando trabalhar com as linguagens da arte: dança, música, artes plásticas e teatro. A oficina literomusical é inteiramente gratuita e faz parte da contrapartida social do Projeto "Marulho o caminho do rio..." contemplado pelo Programa Municipal de Fomento ao Teatro.
Pré-requisito: interessados em geral, a partir de 16 anos.
Duração: oito encontro de 4 horas entre os meses de agosto e setembro. Os interessados podem escolher o seu dia de preferência: sábado, das 14h às 18h, ou domingo das 15h às 19h. O início será dia 14 (sábado) ou 15 (domingo) de agosto.
Local: Casarão da Escola Paulista de Restauro. Rua Major Diogo, 91, Bela Vista. São Paulo/ SP. Tel: 3105-9645 (próximo à Estação Anhangabaú do Metrô)
Os interessados deverão se inscrever encaminhando um email para redimunho@gmail.com , com nome, idade, telefone para contato e o dia de preferência para a oficina.
Literatura de Euclides da Cunha e Guimarães Rosa.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
De volta a Sampa.
Felizes demais, retornamos à terra da Garoa!
Como não consguimos fazer a cobertura completa dos eventos durante a Semana Roseana, vamos publicar os artigos aos pouquinhos.
Dentre as muitas e boas novidades estão as entrevistas com a Miguilin Kewllry Nala Silva Cruz, e com o fundador do Grupo Caminhos do Sertão, mais conhecido como Brasinha.
As entrevistas serão publicadas ainda esta semana!
Em breve teremos também um curta documentário sobre a expedição famigerada à terra de Guimarães.
Por enquanto, fiquem com um breve depoimento sobre essa e outras estórias.
sexta-feira, 23 de julho de 2010
A Semana Roseana.
Guimarães Rosa)
Jac, Estação ferroviária de Cordisburgo.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
As veredas da língua Roseana:Reflexões a partir do Workshop de ontem ministrado por Fran Novaes.
“Todos os meus livros são simples tentativas de rodear e devassar um pouquinho o mistério cósmico, esta coisa movente, impossível, perturbante, rebelde a qualquer lógica, que é a chamada “realidade”, que é a gente mesmo, o mundo, a vida. Antes o obscuro que o óbvio, que o frouxo. Toda lógica contém inevitável dose de mistificação. Toda mistificação contém boa dose de inevitável verdade, precisamos também do obscuro”.
J. Guimarães Rosa
Todos nós fomos unânimes em confessar a dificuldade em entender a escrita roseana no primeiro momento em que botamos os olhos em suas obras, e ao mesmo tempo também concordamos que junto dessa sensação de estranheza não há como não sentir uma espécie de fascínio, como se fosse uma atração pelo mistério de um mundo desconhecido, mas que pode revelar muito de nós mesmos.
Aos poucos, depois de ler e reler os mesmos trechos à busca de entendimento, a gente vai se entregando ao fascínio das palavras e suas atmosferas, a gente vai se habituando à linguagem Roseana e daí começa a descobrir que a Língua é um organismo vivo que pode transcender seus próprios limites e possibilidades e tranformar-se, como se fosse mesmo uma grande metáfora da própria vida: “Tudo, aliás, é a ponta de um mistério, inclusive os fatos. Ou a ausência deles. Duvida? Quando nada acontece há um milagre que não estamos vendo”.
Aí todos os neologismos roseanos passam a fazer sentido, porque são partes indissociáveis de sua maneira de sondar a vida e ao mesmo tempo recriá-la, esta coisa movente, impossível, perturbante, rebelde a qualquer lógica, que é a chamada “realidade”.
A partir dessa compreensão nos sentimos à beira de estar prontos para acolher os paradoxos, compreender o que é passível de compreensão e ao mesmo tempo intuir, sentir, compreender não compreendendo o que é puro mistério e está contido nesse princípio contraditório que envolve tudo o que é vivo!
terça-feira, 20 de julho de 2010
A Neologia de Guimarães Rosa
Devo dizer que acabo se sair com mais vontade ainda de mergulhar neste universo e que essa sensação não acabe.Obrigada Fran Novaes e meus queridos Famigerados!!!
Encontro Fran Novaes
Feliz....Feliz....
Aguardem novas postagens sobre!!!
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Encontros Famigerados!
domingo, 18 de julho de 2010
Glauber Rocha.

E ouvindo um de seus sons fiquei impressionada com o trecho de um depoimento presente na música, que no caso era do cineasta mais relevante da "estória" brasileira: Glauber Rocha.
E juntos decidimos transcrever o texto, que vai aqui de presente procês.
De quebra o link do vídeo do famigerado depoimento:
Evóes.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Boas novas meus bons, os bons ventos também !
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Artaud.
Agora sim.
Quem disse que o amor não vai, não vai, não vai?
Agora sim, em cima do medo coragem.
Evoé, meus caros irmãos!
Está inaugurado o nosso espaço famigerado.
Jac Novaes.