Primeiras Estórias.

      Guimarães Rosa, ele sim era o embaixador do reino das palavras. Drummond já sabia. Do reino-reino. E toda sua obra não é senão travessia. Travessias que nós famigerados, não soubemos evitar de seguir. Não pudemos evitar. As estórias de Guimarães pareciam vir de um país distante, onde o poeta lambe as palavras e se alucina. Mas em pleno verão de fevereiro já sabíamos que não. Sabíamos que Guimarães era um segredo nosso, sem que o Wisnik precisasse contar. Ainda não precisava.

     Quando eu - Jac - e Joice nos escrevemos, a uma distância de 1.675 Km, e descobrimos que estavámos - coincidentemente? - lendo as mesmas páginas de Grande Sertão: Veredas, já não havia mais como escapar. E a estória de Diadorim e Riobaldo às vezes ainda me visita e me cobra. Mas as estórias de Brejeirinha e Miguilim, essas começaram então a ganhar seus espaços...

... e vieram as primeiras canções, as primeiras reuniões, os primeiros acertos. Nossas primeiras estórias.

       Já sabíamos que a luz é para todos, e que as escuridões é que são diversas e apartadas, mas em cima do medo havia coragem, e decidimos - apesar de apesar de apesar - sermos justos enfim, e nos darmos essa chance, de contar talvez, as nossas estórias.

     O que sabemos agora é que o encantamento de Guimarães não tem cura, e que quando nosso despretensioso, mas muito ansiado espetáculo, estiver pronto, no desmedido momento, virá a vida.


Enquanto   isso,   fiquem   com   as   trinta  e   cinco   estorinhas    de    uma   caixinha   de   fósforos:

As estórias de Brejeirinha, a pequena invetora de A Partida do Aldaz Navegante:

"O Aldaz Navegante, que foi descobrir os outros lugares valetudinário. Ele foi num navio, também, falcatruas. Foi de sozinho. Os lugares eram longe, e o mar. O Aldaz Navegante estava com saudade, antes, da mãe dele, dos irmãos, do pai. Ele não chorava. Ele precisava respectivo de ir. Disse: - 'Vocês vão esquecer muito de mim?'

O navio dele, chegou o dia de ir. O Audaz Navegante ficou batendo o lenço branco, extrínseco, dentro do indo-se embora do navio. O navio foi saindo do perto para o longe, mas o Audaz Navegante não dava as costas para a gente, para trás. A gente também inclusive batia os lenços brancos. Por fim, não tinha mais navio para se ver, só tinha o resto do mar. Então, um pensou e disse: -'Ele vai descobrir os lugares, que nós não vamos nunca descobrir...'. Então e então, outro disse: - 'Ele vai descobrir os lugares, depois ele nunca vai voltar...'. Então, mais, outro pensou, esférico, e disse: - 'Ele deve de ter, então, a alguma raiva de nós, dentro dele, sem saber...'

Então, todos choraram, muitíssimos, e voltaram tristes para casa, para jantar...

O Aldaz Navegante não gostava de mar! Ele tinha assim mesmo de partir? Ele amava uma moça, magra. Mas o mar veio, em vento, e levou o navio dele, com ele dentro, escrutínio. O Aldaz Navegante não podia nada, só o mar, danado de ao redor, preliminar. O Aldaz Navegante se lembrava muito da moça. O amor é original...

...Évem a tripulação... Então, não. Depois, choveu, choveu. O mar se encheu, o esquema, amestrador... O Aldaz Navegante não tinha caminho para correr e fugir, perante, e o navio espedaçado. O navio parambolava... Ele, com o medo, intacto, quase nem tinha tempo de tornar a pensar demais na moça que amava, circunspectos. Ele só a prevaricar... O amor é singular...

A moça estava paralela, lá, longe, sozinha, ficada, inclusive, eles dois estavam nas duas pontinhas da saudade... O amor, isto é... O Aldaz Navegante, o perigo era total, titular... Não tinha salvação... O Aldaz... O Aldaz... Então... então... Vou fazer explicação! Pronto. Então, ele acendeu a luz do mar. E pronto. Ele estava combinado com o homem do farol... Pronto. E...

 (...)

Então, pronto. Vou tornar a começar. O Aldaz Navegante, ele amava a moça, recomeçado. Pronto. Ele, de repente, se envergonhou de ter medo, deu um valor, desassustado. Deu um pulo onipotente... Agarrou, de longe, a moça, em seus abraços... Então, pronto. O mar foi que aparvalhou-se. Arres! O Aldaz Navegante, pronto. Agora, acabou-se, mesmo: eu escrevi - 'Fim'!.

Agora, eu sei. O Aldaz Navegante não foi sozinho; pronto! Mas ele embarcou com a moça que ele amavam-se, entraram no navio, estricto. E pronto. O mar foi indo com eles, estético. Eles iam sem sozinhos, no navio, que ficando cada vez mais bonito, mais bonito, o navio... pronto: e virou vagalumes..."
- Guimarães Rosa, em 'Partida do Audaz Navegante'.